sexta-feira, 5 de agosto de 2016




ALTO DE PINHEIROS
Sua casa de infância era um sobrado com jardim e cerca baixinha, numa rua de terra. Em frente, um terreno vazio era um campo enorme de brincadeiras e jogos até o anoitecer, quando as mães chamavam: Mauroooo! Laerteee!


PAIS E IRMÃOS
Pai, professor da USP, mãe, bióloga, virou mãe profissional. Os irmãos: Mauro, engenheiro, 2 anos mais velho; Helena, fotógrafa, e Marília, atleta, respectivamente 2 e 12 anos mais novas. Nas brincadeiras, criavam ciclos ficcionais, até os adultos participavam. No do faroeste, Mauro inventou uma máquina de fazer dólar.


OS COLÉGIOS
Primeiro foi o Teixeira Branco na Rua Guarará, depois, o Fernão Dias, em Pinheiros. A melhor professora foi a D. Zelinda, genial. Nas aulas de canto, a D. Marietinha ensinava A Marselhesa, oui, em francês! 


RELIGIÃO E POLÍTICA
Adorava aula de religião e Catecismo, queria ser padre. Nas eleições, colecionava santinhos e alfinetes, o do Jânio era uma vassoura. Conservador, tinha o perfil que a TFP queria, quase entrou nessa.


COMEÇANDO A MUDANÇA
A professora de história era apaixonante e reacionária, levou um tenente pra explicar o golpe chamado de revolução. Na adolescência teve uma libertação estética, com Roberto, professor de música, mudou sua relação de fruição com as coisas.


A REVOLUÇÃO INTERIOR 
Fez o Curso Livre de Pintura e Desenho para Adolescentes, na FAAP, de 66 a 68, transformador! Uma experiência de muita liberdade criativa, uma mudança radical - levou-o a fazer as histórias em quadrinhos.


DESCOBRINDO A SEXUALIDADE
(1) Iniciou com um amigo mais velho, mas não progrediu, achava um pecado, a homossexualidade.
(2) Sua primeira namorada e relação sexual hétero, aos 18 anos, foi com Lúcia, parecia um menino, lindo!


AS FACULDADES
Entrar para a Escola de Comunicação, USP, trouxe um mundo de possibilidades, mas a carga de tabus não permitia. Nunca foi centrado em estudos, sempre foi de orelhada, repetiu o Básico. Fez 3 anos de música, 3 anos de jornalismo, não conclui nenhuma.


O PARTIDO COMUNISTA
Foi recrutado pelo amigo Sergio Gomes. O PC era cheio de podes e não podes, a homossexualidade não era citada. Achou no Partidão uma desculpa para adiar o conflito.


OS CASAMENTOS
Morou junto com a Lúcia, casaram, separaram 3 meses depois. Em 79, casou com a Merli, médica, meio autoritária, tiveram o Rafael e o Diogo. Em 87, com a Miriam, com quem teve a Laila, foi uma relação mais horizontal.


AS SEPARAÇÕES
Quando separou da Merli, em 87, teve a mesma dor e insegurança de quando rompeu com os códigos. A separação da Miriam foi mais bem construída, os filhos estavam então morando com eles. Tiveram todos que fazer terapia.


OS TRABALHOS
Sempre desenhou, prazer vinculado ao poder sobre a narrativa. Poder gozar sem buscar no exterior, dentro de você.


A TRANSGENERIDADE
(1) É um caminhar por áreas escuras, de salto alto.
(2) Acorda, se olha no espelho, pensa: não sou uma mulher natural, preciso tirar a barba. 
(3) Querer ver seu corpo nu de pelos, é tirar essa roupa de ser macho.

(4) Sua genitália é masculina, tem desejo por homens, é homossexual? Se sente mulher, é hétero? Uma nomenclatura menos moralista passa pelos sentimentos e não pelo sexo. 





[Xenia Pessoa escreve para o blog uma vez por mês]

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

FALANDO SOBRE OPRESSÃO... - TATIANE DAMASCENO

Quando eu tinha seis anos, meus pais decidiram que estava na hora de ir para a escola. 

Logo no início do ano letivo, minha família faria uma viagem à Minas Gerais, casa dos meus avós. Então minha mãe e eu fomos até a escola, perguntar quando eu poderia começar a estudar, já que acabávamos de voltar de Minas. Na verdade eu não sei bem se fomos antes ou depois da viagem, não me lembro desses detalhes, afinal eu só tinha seis anos. Mas de uma coisa eu me lembro bem, uma moça negra pedindo para falar na secretaria, ela queria fazer uma reclamação. Disse que sua filha estava voltando triste da escola todos os dias, porque haviam duas meninas que a chingavam o tempo todo de neguinha, essas meninas a perturbavam. Neste momento meu mundo parou, eu comecei a imaginar o que me esperaria na tão monstruosa escola.

Quando finalmente entrei, foi batata... Como entrei depois, achei que a professora iria me apresentar à turma, dizer para serem meus amigos, mas não foi o que aconteceu, ela só disse “sente ali”. Pensei que não fosse um costume de lá apresentar, ou que ela fosse seca com todas as crianças... Mas depois de uns dias, ou meses, que uma menina entrou ela fez as pompas todas de boas vindas, então percebi que era só comigo mesmo.

Na hora do intervalo, fizemos a fila e uma menina pisou no meu pé, ela ficou pedindo desculpas o tempo todo. Fomos para o parquinho e esta menina me disse que eu podia brincar com ela, como uma forma de se redimir. Mas uma de suas amigas disse que não era para eu brincar por causa do meu cabelo. Eu fiquei quebrada por dentro, mas não conseguia expressar nada, nem tristeza, nem alegria... Só fiquei alí, parada, olhando todos brincarem o recreio inteiro. Não me lembro de a professora ter questionado o porquê de eu não estar brincando... Depois eu acabei fazendo amizades, interagia com as crianças. Mas eu nunca vou me esquecer de quão duro foi este primeiro dia de aula neste universo tenebroso que é a escola.

Vejo algumas pessoas e até alguns amigos, mencionando que bulliyng na escola é normal, que todo mundo passa por isso, que hoje em dia o mundo está chato, não se pode falar mais nada e nem fazer brincadeiras e eu me pergunto: Onde está a empatia desta pessoa? Será que ela não pode se quer tentar se colocar no lugar de outra que está esteticamente fora dos padrões eurocêntricos que são considerados referencias de beleza? Sim porque esta foi só uma das trilhares de humilhação pela qual passei, a primeira delas, posso dizer assim... Depois disso veio muito mais sofrimento que conto outra hora.

[Tatiane Damasceno escreve para o blog toda primeira segunda-feira do mês]



sábado, 16 de janeiro de 2016

INSCRIÇÕES ABERTAS!


Em prosseguimento à oficina introdutória realizada em dezembro de 2015, esta ano a Coletiva Trajetórias Feministas abre inscrição para a oficina-pesquisa Teatro das Oprimidas - Práticas Lesbofeministas.

Esta oficina introdutória objetiva fomentar possibilidades de criações artísticas como fomento de proposições políticas às questões de gênero e sexualidade, buscando uma intersecção entre as técnicas do teatro da/o oprimida/o e o lesbofeminismo.

Saiba mais: trajetoriasfeministas.to@gmail.com ou envie uma mensagem para nossa página no facebook

Oficina será realizada na cidade de São Paulo/SP

Não é necessário ter experiência em teatro.