terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

FALANDO SOBRE OPRESSÃO... - TATIANE DAMASCENO

Quando eu tinha seis anos, meus pais decidiram que estava na hora de ir para a escola. 

Logo no início do ano letivo, minha família faria uma viagem à Minas Gerais, casa dos meus avós. Então minha mãe e eu fomos até a escola, perguntar quando eu poderia começar a estudar, já que acabávamos de voltar de Minas. Na verdade eu não sei bem se fomos antes ou depois da viagem, não me lembro desses detalhes, afinal eu só tinha seis anos. Mas de uma coisa eu me lembro bem, uma moça negra pedindo para falar na secretaria, ela queria fazer uma reclamação. Disse que sua filha estava voltando triste da escola todos os dias, porque haviam duas meninas que a chingavam o tempo todo de neguinha, essas meninas a perturbavam. Neste momento meu mundo parou, eu comecei a imaginar o que me esperaria na tão monstruosa escola.

Quando finalmente entrei, foi batata... Como entrei depois, achei que a professora iria me apresentar à turma, dizer para serem meus amigos, mas não foi o que aconteceu, ela só disse “sente ali”. Pensei que não fosse um costume de lá apresentar, ou que ela fosse seca com todas as crianças... Mas depois de uns dias, ou meses, que uma menina entrou ela fez as pompas todas de boas vindas, então percebi que era só comigo mesmo.

Na hora do intervalo, fizemos a fila e uma menina pisou no meu pé, ela ficou pedindo desculpas o tempo todo. Fomos para o parquinho e esta menina me disse que eu podia brincar com ela, como uma forma de se redimir. Mas uma de suas amigas disse que não era para eu brincar por causa do meu cabelo. Eu fiquei quebrada por dentro, mas não conseguia expressar nada, nem tristeza, nem alegria... Só fiquei alí, parada, olhando todos brincarem o recreio inteiro. Não me lembro de a professora ter questionado o porquê de eu não estar brincando... Depois eu acabei fazendo amizades, interagia com as crianças. Mas eu nunca vou me esquecer de quão duro foi este primeiro dia de aula neste universo tenebroso que é a escola.

Vejo algumas pessoas e até alguns amigos, mencionando que bulliyng na escola é normal, que todo mundo passa por isso, que hoje em dia o mundo está chato, não se pode falar mais nada e nem fazer brincadeiras e eu me pergunto: Onde está a empatia desta pessoa? Será que ela não pode se quer tentar se colocar no lugar de outra que está esteticamente fora dos padrões eurocêntricos que são considerados referencias de beleza? Sim porque esta foi só uma das trilhares de humilhação pela qual passei, a primeira delas, posso dizer assim... Depois disso veio muito mais sofrimento que conto outra hora.

[Tatiane Damasceno escreve para o blog toda primeira segunda-feira do mês]